Notícias

Imagem

2021 pode ter aumento da concentração de renda, da pobreza e da miséria

O ano que passou foi difícil. Provavelmente um dos mais difíceis da história (sem exagero). Mas o ano que se inicia, em diversos aspectos, não traz grandes presságios de melhora. Pelo contrário: em alguns casos, a previsão, já de partida, é de piora. É o que acontece, por exemplo, no que diz respeito à desigualdade social e econômica.

Ao longo do ano passado, como noticiado ontem pelo Bem Paraná, o pagamento do auxílio emergencial pela União garantiu a injeção de R$ 7,898 bilhões na economia, beneficiando mais de 3,2 milhões de paranaenses (30,7% da população), que ao longo do ano receberam, em média, R$ 2.463.

Com o governo federal alegando que o país está quebrado, porém, as últimas parcelas do benefício estão sendo pagas neste mês e, ao menos por ora, a tendência é que os repasses cheguem ao fim, mesmo com a pandemia do novo coronavírus perdurando. Acontece que os efeitos práticos disso poderão ser devastadores, com o aumento da concentração de renda no país e o crescimento da pobreza e da miséria.

Conforme o economista Wilhelm Meiners, professor do curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), antes da pandemia a taxa de miséria no Brasil, medida por pessoas que não consomem o nível adequado de calorias, estava em 7%, se agravando desde a crise econômica que teve início entre 2015 e 2016. No ano passado, porém, por causa do auxílio emergencial, “que atingiu muita gente, inclusive os mais pobres”, essa taxa caiu para perto de 5%.

“Com o fim do auxílio para essa população, o índice de miséria pode chegar a 10%. São pessoas fora dos programas oficiais de auxílio, que não são atingidas pelo Bolsa Família, vivem de bico, não tem endereço fixo, são moradores de rua, pessoas que vivem em regiões muito afastadas dos grandes centros”, diz o economista. “Esse pessoal vai entrar 2021 muito pior que 2020. Não é toda a população. Grande parte da população tem conseguido ocupações no comércio, nalguns serviços que já retornaram. Okay, essa população está protegida. Mas a população mais pobre, mais vulnerável, essa, sim, vai ser afetada”, complementa.

Ainda segundo Wilhelm, o pagamento do auxílio foi benéfico e o valor, especialmente nos primeiros meses, foi até mesmo superior às necessidades mais básicas da população. Além disso, ele destaca que, no que diz respeito ao atingimento, o número de beneficiados no Paraná (3,2 milhões de pessoas) ficou muito além do índice de pobreza.

“Isso criou uma bolha de consumo muito grande na economia que vai furar. Deu uma furada em setembro [quando o valor do auxílio passou de R$ 600 para R$ 300}, agora vai furar e cair muito em 2021, o que vai ser danoso para as atividades do comércio, sobretudo bens mais básicos, como alimentação e até eletrodomésticos. Pessoas que receberam auxílio trocaram de fogão, de geladeira, alguns eletrodomésticos mais necessários, e essa venda vai cessar.”

‘Estamos todos no mesmo mar. Uns em iate, outros a nado’

Citando uma frase do padre Júlio Lancellotti, Wilhelm Meiners faz questão ainda de esclarecer que, na pandemia, não estamos todos no mesmo barco. “Ele [Lancelotti] diz que não estamos todos no mesmo barco, mas estamos todos no mesmo mar. Acontece que uns estão de iate, outros a nado.”

Segundo ele, a pandemia, inquestionavelmente, é uma situação que afetou a todos, todo mundo está, de alguma forma, sofrendo. Mas há aqueles que têm condições de trabalhar remotamente, possuem estabilidade no emprego ou até mesmo estão vinculados a negócios que se beneficiaram, por exemplo, com as vendas online. Por isso, o fundamental neste momento seria focalizar e socorrer aqueles que estão a nado e não têm nem colete salva vida.

“Para resgatar essa pessoa, dar o mínimo de dignidade, sustentação. A consequência disso [fim do auxílio emergencial] vai ser simples: uma onda de pedintes na rua e alta dos crimes contra a propriedade, como já havia acontecido em 2015 e 2016, Agora isso vai se agravar e a pessoa mais rica vai ter de investir mais ainda em segurança, vai se sentir mais amedrontada em andar nas ruas de sua cidade, porque vai aumentar o número de miseráveis, de pedintes. Isso é muito triste e muito drástico.”

Repasse menor e melhor direcionado seria a solução

Diante da alegada falta de dinheiro da União, uma possibilidade citada pelo economista Wilhelm Meiners seria fazer uma reavaliação do cadastro feito para o pagamento do auxílio emergencial, tentando-se agora focalizar melhor os pagamentos para atender aqueles que estão mais vulneráveis em face da crise econômica e sanitária. Seria possível, por exemplo, implementar o pagamento de valores diferenciados, um benefício de valor variável.

“Por exemplo, quem recebe Bolsa Família vai ganhar menos do que pessoas fora de qualquer programa social. Quem tem BPC não tem necessidade [de receber o auxílio], assim como pessoas com outras fontes de renda. Atende um quarto da população com valores menores, eventualmente com recursos e gêneros alimentícios fornecidos pelo município, de tal forma que poderia reduzir o impacto do benefício no orçamento”, exemplifica.

Com o auxílio emergencial em R$ 600 reais, por exemplo, o benefício tinha um custo de R$ 55 bilhões para a União. Reduzindo isso para um quarto da população, seria possível chegar a algo próximo de R$ 8 bilhões por mês, o que significa que em seis meses eriam necessários entre R$ 48 e R$ 50 bilhões para manter o programa. “O que gastava em um mês gastaria em seis meses, com repasse menor e melhor direcionado para as pessoas mais pobres, mais necessitadas, e casado com auxílio alimentação, entrega de gêneros alimentícios fornecidos pela Prefeitura”, finaliza o economista.

Fonte: Bem Paraná

Categorias:

Comente esta notícia

código captcha

O Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita do Estado do Paraná (SINDAFEP) utiliza alguns cookies de terceiros e está em conformidade com a LGPD (Lei nº 13.709/2018).

CLIQUE AQUI e saiba mais sobre o tratamento de dados feito pelo SINDAFEP. Nessa página, você tem acesso às atualizações sobre proteção de dados no âmbito do SINDAFEP bem como às íntegras de nossa Política de Privacidade e de nossa Política de Cookies.